Enquete do Senado: tristes conclusões

Postado por Willow, a Bruxa | Às 09:21 | Em

O assunto desse mês, para muitos, foi a enquete que o Senado fez para o mês de novembro, que pode ser visualizada nessa página.

A pergunta foi:

Você é a favor da aprovação do projeto de lei (PLC 122/2006) que pune a discriminação contra homossexuais?

O resultado começou oscilando até que o "sim" alcançou 70%. Um grupo chamado "Internautas Cristãos" iniciou uma campanha para que cristãos votassem no "não". Havia inclusive postagens que ensinavam as pessoas a burlar a enquete, apagando cookies e assim votando várias vezes no "não" como pode ser visto aqui.

Em um dado momento a equipe que coordena as enquetes no site do Senado percebeu que estava havendo uma fraude: o número de votos cresceu absurdamente em poucas horas. A esquete foi suspensa e os resultados zerados. Os internautas cristãos acusavam os "gayzistas" de teram hackeado a enquete, apesar do "não" estar vencendo quando houve o tal hackeamento.

No exato momento em que escrevo esse post o "não" vence com 50, 82%.

Não me importo mais com o resultado dessa enquete. Ela se encerra ao fim desse mês e provavelmente o resultado não mude. Provavelmente o "não" ganhe.

Mas eu tirei algumas conclusões dessa história toda.

1. A enquete foi mal formulada. Talvez até mal intencionada. Porque a PLC 122/2006 não pune apenas a discriminação contra homossexuais. A lei pune "discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião, origem, condição de pessoa idosa ou com deficiência, gênero, sexo, orientação sexual ou identidade de gênero". Ou seja, abrange a discriminação a outras minorias. Porque então colocar na enquete que a lei puniria apenas quem discriminasse homossexuais? Estranho.
2. Existe um grupo muito bem empenhado em não deixar essa lei ser aprovada, assim como derrubar qualquer aparato a favor dos direitos homoafetivos. O site que linkei acima, dos internautas cristãos são apenas um exemplo. Em fóruns pelo Orkut é possível ver bem mais. São pessoas profundamente organizadas e empenhadas em retirar ao máximo os direitos de pessoas que nada fizeram a elas, senão existir.
3. Isso nada tem a ver com "liberdade de expressão". Os que são contra a lei por afirmar que ela criaria uma "mordaça gay" não conseguiram até agora explicar porque quem chama alguém de "neguinho" é punido e quem chama de "viadinho" não pode ser. Ou seja, punir discriminação de raça tá correto e punir discriminação de orientação sexual é "mordaça"? Não, né.
4. Isso nada tem a ver com "liberdade religiosa". Os que afirmam que a lei feriria seu direito de seguir a Bíblia esquecem que o mesmo capítulo que diz que homossexualidade é pecado também diz que podemos ter escravos, entre outros costumes já banidos da sociedade atual. Ou seja, a Bíblia é interpretada por eles apenas no que lhe é conveniente. O que não for, eles interpretam como costume da época, já o que for conveniente deve ser seguido literalmente como está no texto. Esses "cristãos" são apenas pessoas preconceituosas usando a Bíblia como pretexto irrefutável para praticar seus crimes de discriminação.
5. Os homossexuais estão muito pouco empenhados. Demorei séculos para saber que essa lei não punia a discriminação a outras minorias também. Isso que eu tava lendo quase tudo sobre isso em veículos gays. Os próprios gays, quando defendem a lei, não tem conhecimento da abrangencia dela. Há muita desinformação. E pouca organização. Porque há organização para fazer paradas, mas não há para ir a Brasília pedir para aprovação da lei. Para mostrar que pessoas do Brasil todo esperam pela sua aprovação. Um grupo levantou essa possibilidade em uma comunidade do Orkut, mas poucos se manifestaram interessados. A sensação que dá é que a maioria de nós só quer festa e está pouco interessada na conquista de nossos direitos.

Bom, eu não sou assim. Estou muito interessada na aprovação dessas lei, assim como a que torna possível a união civil. Porque eu sinceramente não tenho interesse no oba-oba das paradas gays, que infelizmente deixaram de ter sua força social e política para se transformar em uma micareta (E quem defende as paradas há de concordar comigo em ao menos uma coisa: elas já foram importantes, mas hoje estão desvirtuadas de eu propósito inicial. Outras soluções precisam ser encontradas). Eu tenho interesse em casar, em ter filhos. Mas casar no papel. E poder levar meus filhos no colégio sem ser discriminada. Eu não quero mais do que todos já têm direito. E não vou calar nem me distrair em relação a isso.

Sei lá, alguns de nós precisam acordar.

Comments (1)

Olá, primeiro queria te parabenizar porque teu blog é muitooo legal!

E esse poste ficou muito bom e muito bem escrito. Concordo com todos os pontos que vc abordou... Infelizmente tem muita gente por ai, que não consegue viver a própria vida e tem uma necessidade absurda de vigiar o " vizinho".

Uma pessoa que pensa na palavra " gayzista" no mínimo nunca teve História no colégio e se teve dormia durante as aulas. Esse tipo de termo por sí só já explica a necessidade dessa lei.

Eu sinceramente fiquei muito triste com o final da votação... com o não ganhando. É tão triste, desanimador... E exatamente por isso concordo sobre o que vc disse, com relação ao homossexuais não estarem muito empenhados. Lógico que tem pessoas que divulgaram (e-mail, blog, twitter, telefone...) mas com certeza tinham aquelas q escutavam falar sobre isso e 5 minutos depois esquecia... se essa pessoa for hétero eu até entendo, afinal de contas eles não são "vitimas" de preconceito, piadinhas, risadinhas, dedos apontados... mas pra quem tem um namorado ou uma namorada e sempre foram olhados estranhos em simplesmente pegar na mão, em não poder beijar na boca qdo esta na rua (sendo que a novela das 7 passa cena de sexo quase explicito par crianças...), essas pessoas poderiam se empenhar mais um pouco, ou pelo menos, irem lá votar.

Então faço das suas as minhas palavras "alguns de nós precisam acordar."

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